come so o que gosta

    Alimentação da criança que só come o que gosta

    Por
    Mirella Pasqualin, Nutricionista

     

    Rejeitar alimentos faz parte de uma das dificuldades alimentares identificadas nas chamadas crianças “comedoras seletivas”. A ciência ainda não chegou a uma definição exata para alimentação seletiva, já que são diversos os comportamentos que podem estar relacionados, mas alguns dos mais marcantes envolvem justamente a rejeição de alguns alimentos. Esses alimentos podem ser já conhecidos pelas crianças ou podem ser novos, aos quais a criança nunca tenha sido apresentada1,2.

    É importante ter em mente que é comum que as crianças rejeitem alimentos até certo ponto, e esse comportamento seletivo pode fazer parte de seu desenvolvimento normal1,3. Apesar de os números variarem bastante, estudos mostram que a alimentação seletiva pode atingir até 50% das crianças em idade pré-escolar (2 a 6 anos de idade), número que cai para menos de 30% em anos mais avançados na infância4.

    Porém, existem alguns sinais de alerta que podem indicar se realmente há alguma dificuldade alimentar importante. Os principais deles são evitar qualquer refeição, comer apenas os alimentos preferidos e nada mais, preferir bebidas a alimentos sólidos e aceitar determinados alimentos apenas quando estão camuflados. Outro ponto importante a se observar é o tempo de duração desse comportamento, sendo normal que a rejeição de alimentos seja transitória, temporária, podendo se perdurar até o fim da idade pré-escolar1,5.

    A principal consequência dessa dificuldade alimentar é que as crianças acabam apresentando uma dieta muito menos variada e, consequentemente, de menor qualidade. Os alimentos mais frequentemente rejeitados são frutas, vegetais e alimentos fonte de proteínas, como carnes e peixes, o que pode prejudicar o consumo adequado não somente das proteínas em si, mas de vitaminas, minerais e compostos bioativos que estão naturalmente presentes nesses grupos de alimentos. As crianças que rejeitam alimentos de forma persistente também parecem ter mais chance de apresentar problemas globais de desenvolvimento em idades mais avançadas (por volta dos sete anos)5.

    Uma das mais consistentes recomendações para lidar com a rejeição de alimentos é oferecer novamente os alimentos que foram recusados, em diferentes ocasiões, totalizando de oito a dez vezes, principalmente no caso de ser um alimento novo, justamente porque a recusa é natural até certo ponto. Novas ocasiões de oferta ajudam a identificar se aquele é um alimento que a criança não aprecia, de fato, ou se estava passando pelas oscilações de aceitação e mudanças no paladar, que são normais na infância3,6,7,8.

    Porém, além de oferecer novamente, é importante tentar novas formas de preparo e apresentação, abusando da criatividade, novas maneiras de temperar e novas combinações, procurando aumentar o leque de possibilidades. Para ser atraente para a criança, o prato precisa ser montado com cuidado, apresentar cores, sabores e texturas diversas1,3,6.

     

    Referências Bibliográficas

    1. Cardona Cano S, Hoek HW, van Hoeken D, de Barse LM, Jaddoe VW, Verhulst FC, Tiemeier H. Behavioral outcomes of picky eating in childhood: a prospective study in the general population. J Child Psychol Psychiatry. 2016 Feb 19.

    2. Cardona Cano S, Tiemeier H, Van Hoeken D, Tharner A, Jaddoe VW, Hofman A, Verhulst FC, Hoek HW. Trajectories of picky eating during childhood: A general population study. Int J Eat Disord. 2015 Sep;48(6):570-9

    3. Dazeley P, Houston-Price C, Hill C. Should healthy eating programmes incorporate interaction with foods in different sensory modalities? A review of the evidence. Br J Nutr. 2012 Sep;108(5):769-77.

    4. Nepper MJ, Chai W. Parents' barriers and strategies to promote healthy eating among school-age children. Appetite. 2016 Aug 1;103:157-64.

    5. SBP - Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia. Manual de orientação para a alimentação do lactente, do pré-escolar, do escolar, do adolescente e na escola. 3. ed. Rio de Janeiro, RJ: SBP, 2012.

    6. Taylor CM, Wernimont SM, Northstone K, Emmett PM. Picky/fussy eating in children: Review of definitions, assessment, prevalence and dietary intakes. Appetite. 2015 Dec;95:349-59.

    7. van der Horst K, Deming DM, Lesniauskas R, Carr BT, Reidy KC. Picky eating: Associations with child eating characteristics and food intake. Appetite. 2016 Aug 1;103:286-93.

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